sexta-feira, 14 de maio de 2010

"A história de “G”"

Meu nome é Ana, sou pedagoga,com habilitação específica para trabalhar com crianças especiais.
O objetivo da criação deste blogger tem como finalidade maior, relatar minhas experiências com crianças Autistas e seus espectros; devido a grande demanda de alunos que estão sendo incluídos na rede regular; o espaço também estará aberto para troca de experiências e outros comentários, assim como dicas de práticas pedagógicas, com o intuito de otimizar o desenvolvimento destes alunos, em todos os aspectos.
Iniciarei contando o meu primeiro contato com um aluno de inclusão que por questões éticas o chamarei de “G”.
O ano era 2007, “G”, 5 anos foi matriculado na escola onde trabalhava; no ato da matrícula, a mãe omitiu a condição de autismo da criança.Na lista de chamada do infantil V, “G” era apenas mais um aluno. As aulas já haviam começado há duas semanas, porém “G” não havia comparecido; passado alguns dias a inspetora anuncia à professora do inf.V,que havia a mãe de um aluno que a aguardava na sala dos professores; prontamente ela se dirigiu até a mãe, que lá estava com um caixa muito bem empacotada, ornamentada com um lindo laço.E disse:
-Isto é um presente para senhora, em nome da paciência que terá que ter com o meu filho!!!
A professora agradeceu, porém não entendeu a atitude daquela mãezinha.
Eis que no dia seguinte, “G” se apresenta; não entrou pelo portão destinado aos demais alunos, chegou após o horário, as outras crianças já estavam na mesa de lanche.Lembro-me como se fosse hoje,”G” parado ao lado da mãe, usava fraldas, demonstrava, desconforto, por estar num ambiente desconhecido, com muitas interferências sonoras.Estava agitado, balançava as mãos e gritava muito, andando em círculos, até que tirou os sapatos e seguiu correndo em disparada pelos corredores da escola (na ponta dos pés).A professora assustada olhou-me e perguntou:
-O que está acontecendo?
A mãe cabisbaixa nada falou.Sai ao encontro de “G”, ele estava muito ansioso me parecia querer explorar aquele lugar de uma só vez, não permitia nenhum contato físico, até que descobriu o parque...Naquele momento parou e observou o espaço, mesmo me dando a entender que seus pensamentos estavam em outro lugar.Então intuitivamente me sentei no balanço e fiquei a me balançar, “G”,sem nada dizer segurou minha mão, como se quisesse também, experimentar aquela sensação; ajudei-o a sentar-se no balanço e lá ele ficou por um bom tempo,notei até um leve esboço de satisfação...A professora aproximou-se de nós com a lancheira dele...Rapidamente ele pulou do balanço e puxou-a da mão dela, ali havia tudo o q ele gostava de comer,”G” comia compulsivamente (salgadinho,refrigerante bolinhos).Ao final do dia a professora , estava abalada.Eu disse à ela que teríamos um longo trabalho pela frente...
"G" entrava na escola em horário adaptado,os dias iam passando e sentia que ele demonstrava algum sinal de afeição por mim.Aos poucos descobria coisas diferentes nele, juntos aprendemos muitas coisa,talvez eu até mais do que ele...."G" aprendeu a utilizar o copo, a comer com a colher, a usar o sanitário sozinho,escovar os dentes entre outras inúmeras coisas como o beijinho diário na hora da entrada e saída.Sei que poderia ter feito outras tantas intervenções para aprimorar o desenvolvimento global dele, porém, um dia antes da festa junina fui informada que a matricula dele havia sido cancelada.Um misto de tristeza e indignação tomou conta de mim....Por alguns dias ainda tentei entrar em contato com a família,porém sem sucesso...
"G" sempre será para mim aquele projeto no qual o objetivo nunca fora atingido.Onde quer que ele esteja, espero ter contribuido de alguma forma para sua felicidade!!!!
Saudades "G".

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc é maravilhosa.

Depois não esquece de postar a do menino com a camiseta do avesso...

Bj.

Cristina disse...

Tenho uma amiga que é mãe de um filho autista com 28 anos. Lembrei da primeira vez que o vi ( ele devia ter uns 13 ou 14 anos)...
Essas eternas crianças nos ensinam muito.
Acredito que a missão deles na Terra é muito especial.
Admiro muito os pais e os profissionais, que se dedicam a pessoas como o pequeno "G" e que vibram com cada pequena vitória de seus filhos,alunos ou pacientes.
Bjsssssssssssss